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Reforma: Valoriza ou Desvaloriza? Como saber?


Imagine a seguinte situação: Acabo de comprar um apartamento que possui uma área satisfatória para as minhas necessidades, mas é muito compartimentado. Não preciso dos três quartos, mas gostaria de uma sala maior. Devo ou não integrar a cozinha com a sala quebrando a parede que as separa? E, mais importante, após executar estas obras, terei valorizado ou desvalorizado o meu imóvel?
Estas perguntas têm sido feitas cada vez numa frequência maior. O fato é que, ao longo dos anos, a estrutura familiar da população mudou. Cada vez mais pessoas moram sozinhas, e aumentou o número de casais sem filhos ou com apenas um filho. Casos de pais separados que moram sozinhos e recebem seus filhos em casa nos finais de semana também são bastante frequentes. Hoje em dia as pessoas trabalham mais em casa e, portanto, precisam de um espaço para isso. É pequeno o número de famílias que têm empregadas que dormem em casa e, muitas vezes, estas sequer cozinham. Basicamente os espaços
precisam ser mais flexíveis e pensados de uma forma diferente da de uma ou duas décadas atrás.
Entretanto, a estrutura básica das casas e apartamentos não mudou, ou mudou muito pouco durante todos esses anos. As casas continuam sendo feitas para famílias numerosas e, talvez a única alteração significativa nos projetos, tenha sido a inclusão de um maior número de banheiros, o que diminuiu ainda mais os espaços de salas e quartos.
Diante deste cenário, muitos arquitetos se deparam constantemente com os pedidos dos clientes para aumentar determinados ambientes, suprimindo outros. E a pergunta persiste: Isso valoriza ou desvaloriza o imóvel?
Segundo Cesar Mello, sócio da imobiliária Mello Imóveis, com forte atuação em São Paulo, “uma reforma, a princípio, sempre valoriza o imóvel. Se você tem um imóvel de R$ 500 mil e gasta mais R$ 150 mil na reforma, ele deve valer algo por volta da soma destes dois valores ao final do processo. Eventualmente, o que pode ocorrer é uma perda da liquidez.” Esta questão da liquidez, a facilidade para vender, pode variar muito de cidade para cidade, ou mesmo de bairro para bairro. Dependendo do poder aquisitivo do público alvo de determinado imóvel, pode também haver maior ou menor liquidez. Mas, da mesma maneira que é grande o número de pessoas que faz alterações nas plantas dos imóveis suprimindo ambientes, cada vez mais pessoas se interessam por locais que já se encontram modificados, o que aumenta a facilidade de venda, afirma Mello.
No caso de alterações deste tipo, deve-se tomar o cuidado de buscar soluções mais flexíveis, ou que possam ser reversíveis no futuro. Se o projeto for bem pensado, é fácil no momento da venda construir uma parede de gesso acartonado, por exemplo, para formar novamente um quarto perdido ou ainda isolar novamente a cozinha da sala. Closets podem virar escritórios ou salas de TV e assim o imóvel tem chance de agradar a vários potenciais compradores.
Quando iniciamos um projeto de reforma de uma casa ou de um apartamento, não é apenas o valor final de venda que deve ser considerado. Tão importante quanto o valor de venda, é o valor de uso deste imóvel. Se a intenção é habitar um apartamento por 20 anos, por exemplo, é claro que qualquer modificação que aumente o conforto do usuário é bem-vinda e vale à pena. Mesmo que signifique alguma desvalorização, se pensarmos no conforto que esta modificação proporcionará durante 20 anos, sempre valerá à pena. Até porque, ao contrário dos automóveis, os imóveis tendem a se valorizar sempre e, portanto, depois de todo este tempo, é impossível mensurar a alteração de valor causada por esta reforma.
Algumas dicas podem ser dadas para quem está pensando em quebrar paredes de sua casa e estiver preocupado com a desvalorização ou perda de liquidez após a intervenção:
• Bairros valorizados e que apresentam imóveis antigos, como Higienópolis ou Jardins, em São Paulo, admitem mais tranquilamente modificações desse tipo. Quem compra imóveis nesses bairros já espera ter de fazer algumas reformas e, portanto, não enxerga como o problema a necessidade de abrir ou fechar ambientes. Estes bairros, ainda, abrigam pessoas mais descoladas ou com poder aquisitivo para morar em espaços mais amplos. Neste caso, uma quantidade menor de ambientes mais espaçosos pode até ser um atrativo na hora da compra.
• Se a preocupação é o valor ao final da obra, converse com seu arquiteto sobre eventuais rotas de fuga. Será possível voltar para a planta original com uma obra simples, por exemplo, como a construção de paredes de gesso? Ou a mudança é muito específica e não agradará a mais ninguém?
• Evite estilos arquitetônicos de gosto duvidoso. Projetos de linhas e conceitos contemporâneos tendem a agradar um maior número de futuros interessados no seu imóvel.
• Pense sempre no valor de uso das mudanças. Quanto maior o tempo que se pretende ficar no imóvel, mais vale a pena reformá-lo para deixá-lo de acordo com as suas necessidades. No limite, se a ideia é morar numa casa para o resto da vida, a preocupação com a valorização é desnecessária. Por outro lado, se a intenção é ali ficar por apenas alguns meses e depois vendê-la, o melhor é fazer poucas alterações, que agradem a mais pessoas.
A ideia de que imóvel bom é imóvel novo, tão frequente no Brasil, é totalmente equivocada. Um apartamento não é um carro que começa a quebrar depois de poucos anos. Em países da Europa, por exemplo, muitas pessoas moram em apartamentos com mais de um século e jamais pensaram em se mudar. Desde que bem conservados e adequados às suas necessidades, os imóveis novos ou antigos, além de lhe proporcionar a sensação de bem estar, podem ser um ótimo investimento.

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